Politicamente vivos: milhares marcham pelos 43 estudantes desaparecidos do México
Direto do México: nossa reportagem manda um relato sobre os atos lembrando os 2 anos do desaparecimento - e das incessantes buscas - dos 43 estudantes de Ayotzinapa
No “Passeo de la Reforma”, uma das principais avenidas da Cidade do México, ecoam as vozes dos jovens enfileirados que gritam com força palavras de ordem: “no has muerto, no has muerto, no has muerto, camarada. Tu muerte, tu muerte será vengada”. São os estudantes normalistas que marcham em memória de seus quarenta e três companheiros desaparecidos há dois anos.
No dia 26 de setembro completou dois anos do emblemático caso de desaparecimento dos normalistas de Ayotzinapa. Manifestações em memória dos desaparecidos ocorreram em diversas cidades do mundo, inclusive no Brasil. Na Cidade do México, um protesto com milhares de pessoas ocupou as principais avenidas da cidade na luta por verdade e justiça.
O desaparecimento ganhou as páginas da imprensa internacional e se tornou símbolo da situação crítica que o México vive em relação aos direitos humanos. Os estudantes, de acordo com os familiares, desapareceram nas mãos de autoridades do Estado em carros de policiais e militares. Eles integravam a Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, de Ayotzinapa, instituição remanescente da Revolução Mexicana que possui uma proposta popular de educação na formação de professores campesinos para trabalhar nas regiões mais pobres do país.
O governo mexicano tratou rapidamente de formar sua versão “oficial” do que aconteceu há dois anos, alegando confrontos entre narcotraficantes e assassinato massivo dos estudantes que teriam sido queimados em um lixão perto da cidade de Iguala, último local onde os normalistas foram vistos. Cientistas de diversas áreas já invalidaram a possibilidade de queimar quarenta e três corpos naquele local e em tão pouco tempo. Os familiares dos desaparecidos, e os demais estudantes normalistas, encabeçaram uma campanha até as últimas consequências na busca por seus filhos, pela verdade sobre o que ocorreu e pela punição dos responsáveis. Segundo essa linha de investigação alternativa, até mesmo o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, seria responsabilizado pelo desaparecimento e pela investigação fraudulenta.
O desaparecimento como violência praticada pelo Estado é bem conhecido da realidade latino americana. Só nos últimos cinquenta anos o continente viveu milhares de desaparecimentos forçados. Casos durante as ditaduras militares foram muito comuns, assim como nas atuais democracias, quando a vida de ativistas, de indígenas, de mulheres, de pobres e negros parece completamente passível ao desparecimento e esquecimento. Os 43 de Ayotzinapa são também símbolo de uma resistência, um grito unificado contra a violência institucional que parece ser ignorada justamente por desaparecer.
Reportagem e Fotos: Natascha Castro